Zaporizhia. "Grandes problemas" para resolver antes de reativar a maior central nuclear da Europa

por Inês Moreira Santos - RTP
Alina Smutko - Reuters

A Rússia ocupou a central nuclear de Zaporizhia, mas não é seguro tentar reativá-la. O alerta é do presidente executivo da Energoatom, que adverte para "grandes problemas" por resolver.

A Central Nuclear de Zaporihia (ZNPP) está sob controlo militar russo desde março de 2022 e o atual responsável admitiu, na semana passada, que espera que as licenças russas para iniciar operações em todas as unidades sejam obtidas até o final de 2027. O regulador nuclear da Rússia reconheceu temporariamente a licença de supervisão nuclear ucraniana, mas todas as operações da ZNPP devem atender às regulamentações e leis russas até 2028 para todas as unidades.

"As nossas unidades estão ociosas há muito tempo. Antes do lançamento, teremos que realizar um grande conjunto de trabalhos para inspecionar o equipamento, fazer reparações, confirmar a operabilidade e a prontidão da unidade para operação”, afirmou à comunicação social Yuriy Chernichuk.

Ainda segundo o diretor da central nuclear, está a ser considerada a “opção mais realista é lançar primeiro as unidades 2 e 6, cujas zonas ativas são carregadas com combustível de fabricação russa”.

“Todas elas foram paradas em setembro de 2022 e, desde então, nenhuma delas operou no modo de geração de energia".
A Energoatom da Ucrânia considera que reiniciar as unidades é uma violação dos padrões de segurança nuclear e de radiação.


Numa entrevista ao Guardian, Petro Kotin afirmou que se a Ucrânia recuperasse o controlo total da central nuclear levaria até dois anos para a reativar em segurança. Por isso, duvida que seja seguro que as autoridades russas que assumem o controlo de Zaporizhzhia reiniciem as operações em breve.

O CEO da Energoatom aponta “grandes problemas” por resolver, incluindo água de refrigeração insuficiente, recursos humanos e fornecimento de eletricidade de entrada, antes de se poder gerar energia novamente com segurança.

A central ucraniana de Zaporizhia é o maior reator nuclear da Europa e, por esse motivo, um importante aspeto para eventuais negociações que ponham termo à guerra na Ucrânia. Tomada por Moscovo em 2022 e encerrada por razões de segurança, esta central continua a integrar a linha da frente do conflito, perto do rio Dnipro.

A Rússia pretende manter o complexo e reativá-lo, ainda sem especificar quando. Alexey Likhachev, chefe da operadora nuclear russa Rosatom, tinha dito já em fevereiro que a central seria reiniciada quando “as condições militares e políticas permitissem”. Também Donald Trump manifestou interesse em assumir o controlo da central, embora essa possibilidade seja considerada muito remota.

Já Kotin disse que a Energoatom estava preparada para reiniciar a central, mas isso exigiria que as forças russas fossem removidas e o local fosse desminado e desmilitarizado.

Segundo o CEO da empresa ucraniana, o reinício das operações pelas forças da Ucrânia levaria “de dois meses a dois anos” num ambiente “sem nenhuma ameaça militar”, enquanto que um reinício russo durante a guerra “seria impossível, mesmo para uma unidade”. O responsável adiantou ainda que os seis reatores só podiam ser colocados em operação após a conclusão de 27 programas de segurança acordados com o regulador nuclear de Kiev, incluindo testes de combustível nuclear nos núcleos dos reatores.

Isto levanta questões sobre a segurança do reinicio das operações pelas autoridades russas, mesmo após um cessar-fogo. Kotin recordou que a central já era pouco segura antes considerando que era usada como “base militar com veículos militares presentes” e que havia “provavelmente algumas armas e materiais de detonação”.
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